Os contos de fadas estão presentes em livros e filmes por diversas gerações. Desde os irmãos Grimm até então, muitas versões foram surgindo e conquistando o coração de adultos e crianças. Essas histórias nos levam para um mundo mágico, onde tudo é possível. Mas será esse o único fator para as meninas serem tão apaixonadas por contos de fadas? A psicóloga e consultora Letícia Gomes Gonçalves nos explica um pouco sobre esse cenário e também a respeito da importância do diálogo entre pais e filhos na construção do pensamento sobre essas narrativas.
As crianças aprendem por imitação e são incentivadas a querer ser como seus personagens favoritos dos contos de fadas. Se elas assistem ou leem muito sobre princesas e príncipes, irão querer se parecer com cada um deles. Elas criam um vínculo afetivo com história de seus personagens favoritos e passam a querer fazer parte desse universo. Quem nunca cortou o cabelo como a mocinha da novela ou comprou as roupas que as famosas usam? Fazemos isso porque desejamos ser aceitos e amados por todos.
Sim, as histórias estão mudando porque a sociedade está mudando e isso é algo muito positivo. Como as crianças se espelham nessas histórias é importante que existam desenhos, filmes e livros representativos da realidade. Precisamos ensinar nossas crianças que a vida em sociedade apresenta inúmeros desafios e precisamos oferecer recursos para que elas estejam prontas para enfrentá-los.
Ensinar a falar sobre os sentimentos, a ter uma escuta empática e amorosa, ajuda-las a criar planos de ação para solucionar os problemas cotidianos. Estamos preocupados demais tentando ensinar a ler e escrever, que esquecemos da inteligência emocional. Esse aspecto é essencial para a vida adulta e também deve ser ensinado. Histórias, desenhos e filmes são recursos maravilhosos para a criança aprender sobre a vida em sociedade.
Toda história tem diferentes interpretações. Crianças, principalmente as muito pequenas, ainda não tem a capacidade de interpretar uma história. É papel dos pais, ao finalizar a leitura, tirar os ensinamentos principais, trazer exemplos da vida real e ajudar a criança a refletir sobre tudo que acabou de ouvir. Esse momento de vinculo e afeto é muito importante para o desenvolvimento afetivo-emocional da criança.
Na vida real, a felicidade e tristeza se misturam. Quando a gente não faz essa reflexão, nossos filhos podem crescer esperando pelo momento de ser feliz para sempre. Só que esse momento nunca vai chegar. O feliz para sempre dos contos de fadas é legal para dizer que, depois de tanta dificuldade, houve um período de calmaria. É importante deixar a criança continuar a história também, perguntando para ela, por exemplo: “E depois que Cinderela casou-se com o príncipe, o que você acha que aconteceu? ” As crianças têm uma percepção muito boa, mas cabe ao pais explorar o “feliz para sempre” para ajudar os pequenos a continuar as histórias da sua própria maneira.
Conversem com suas filhas. Entendam porque gostam tanto desse tipo de história. Ajude-as a escrever suas próprias histórias. Brinquem juntas e apresentem a vida real de uma forma leve, bonita, que faça com que as crianças queiram viver na realidade, apesar de todos os desafios que vida apresenta. O diálogo é sempre o melhor caminho!
Letícia Gomes Gonçalves é Psicóloga formada pela Universidade Federal de São Carlos, consultora em disciplina positiva, criadora do blog Conversa entre Marias e realiza atendimentos online e presenciais.